Os portugueses têm poucos
filhos, mas não é por não quererem ter mais. Os estudos dizem que os
portugueses gostavam de ter mais filhos. Não os têm por falta de condições. Há
duas razões fundamentais que pesam nessa decisão (sobretudo na decisão de ter
mais filhos, depois do primeiro): razões financeiras e a dificuldade de conciliação
da vida laboral com a vida familiar.
Se, quanto aos motivos
financeiros, tudo se agravou nos últimos anos, tendo havido um empobrecimento
generalizado (e soube-se recentemente que os maiores prejudicados pelo aumento brutal
da carga fiscal foram, precisamente, os pais com filhos a cargo...), sem quaisquer
perspetivas de diminuição da carga fiscal (é nela que o Governo sustenta o seu
combate ao défice) e com um primeiro-ministro que acha que ainda se deve ir
mais longe na diminuição de salários, este foi também o Governo que, em nome da
falácia da “igualdade” com o setor privado, decidiu aumentar o horário de
trabalho no emprego público de 35 para 40 horas semanais, ou seja, aumentando o
tempo de trabalho em uma hora diária.
Como dizia Pedro Afonso no artigo
que antecedeu este, uma hora faz muita diferença para os pais. Para muitos
pais, os que vivem mais longe do local de trabalho, pode mesmo ser o suficiente
para não conseguirem estar com os filhos a não ser ao fim-de-semana (no
pressuposto normal de que as crianças vão cedo para a cama). Para muitos
outros, o tempo disponível depois do trabalho e dos transportes mal chega para
as tarefas domésticas (entre dar banho às crianças, tratar do jantar, da louça,
etc., tudo feito a correr), quanto mais para conseguir estar um pouco de tempo (tempo com um mínimo de qualidade) com
os filhos. Os fins-de-semana são em grande parte reservados para as tarefas
domésticas que não se conseguiram fazer durante a semana (não há dinheiro para empregadas domésticas), mais uma vez em
prejuízo da disponibilidade para os filhos. Uma hora a mais por dia no trabalho, uma
mísera hora, faz uma enorme diferença para quem já tinha dificuldade em conciliar
a vida profissional com a vida familiar.
Governantes realmente preocupados
em resolver a questão da natalidade teriam revertido a decisão errada de aumentar
o horário de trabalho de 35 para 40 horas. Que agravou as causas do problema que se
reconhece ser imprescindível resolver.
P.S. O chamado pacote legislativo da natalidade,
publicado recentemente no Diário da República, será tão eficaz como uma
aspirina para debelar o cancro. Isto para não falar em farsa, pois algumas
medidas não passam de uma farsa (como esta).
SPACE
Sem comentários:
Enviar um comentário