29.9.15

“A natalidade”, dizem eles


Os portugueses têm poucos filhos, mas não é por não quererem ter mais. Os estudos dizem que os portugueses gostavam de ter mais filhos. Não os têm por falta de condições. Há duas razões fundamentais que pesam nessa decisão (sobretudo na decisão de ter mais filhos, depois do primeiro): razões financeiras e a dificuldade de conciliação da vida laboral com a vida familiar.

Se, quanto aos motivos financeiros, tudo se agravou nos últimos anos, tendo havido um empobrecimento generalizado (e soube-se recentemente que os maiores prejudicados pelo aumento brutal da carga fiscal foram, precisamente, os pais com filhos a cargo...), sem quaisquer perspetivas de diminuição da carga fiscal (é nela que o Governo sustenta o seu combate ao défice) e com um primeiro-ministro que acha que ainda se deve ir mais longe na diminuição de salários, este foi também o Governo que, em nome da falácia da “igualdade” com o setor privado, decidiu aumentar o horário de trabalho no emprego público de 35 para 40 horas semanais, ou seja, aumentando o tempo de trabalho em uma hora diária.

Como dizia Pedro Afonso no artigo que antecedeu este, uma hora faz muita diferença para os pais. Para muitos pais, os que vivem mais longe do local de trabalho, pode mesmo ser o suficiente para não conseguirem estar com os filhos a não ser ao fim-de-semana (no pressuposto normal de que as crianças vão cedo para a cama). Para muitos outros, o tempo disponível depois do trabalho e dos transportes mal chega para as tarefas domésticas (entre dar banho às crianças, tratar do jantar, da louça, etc., tudo feito a correr), quanto mais para conseguir estar um pouco de tempo (tempo com um mínimo de qualidade) com os filhos. Os fins-de-semana são em grande parte reservados para as tarefas domésticas que não se conseguiram fazer durante a semana (não há dinheiro para empregadas domésticas), mais uma vez em prejuízo da disponibilidade para os filhos. Uma hora a mais por dia no trabalho, uma mísera hora, faz uma enorme diferença para quem já tinha dificuldade em conciliar a vida profissional com a vida familiar.

Governantes realmente preocupados em resolver a questão da natalidade teriam revertido a decisão errada de aumentar o horário de trabalho de 35 para 40 horas. Que agravou as causas do problema que se reconhece ser imprescindível resolver.

P.S. O chamado pacote legislativo da natalidade, publicado recentemente no Diário da República, será tão eficaz como uma aspirina para debelar o cancro. Isto para não falar em farsa, pois algumas medidas não passam de uma farsa (como esta).
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