3.10.17

Música do pombal XXIII: Don't fade on me

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I remember you so clearly
The first one through the door
I return to find you drifting
Too far from the shore
I remember feeling this way
You can lose it without knowing
You wake up and you don't notice
Which way the wind is blowing
Don't fade
Don't fade on me
You were the one who made things different
You were the one who took me in
You were the one thing i could count on
Above all you were my friend
Don't fade
Don't fade on me
Well your clothes hang on a wire
And the sun is overhead
But today you are too weary
To even leave your bed
Was it love that took you under?
Or did you know too much?
Was it something you could picture?
But never could quite touch?
Don't fade
Don't fade on me

© 1994 Tom Petty

3.10.16

A presença de acompanhante nas cesarianas: ainda há incumprimento


Recapitulemos. Havia uma lei em vigor há 30 anos e que não era cumprida na maioria dos hospitais e maternidades públicos. Em Abril deste ano, na sequência de uma petição, foi publicado um despacho ministerial que dava três meses aos estabelecimentos para passarem a cumprir a obrigação de reconhecerem à parturiente o direito de ter um acompanhante durante o parto por cesariana (sobre o despacho, ver aqui). O prazo terminou em 14 de Julho, mas o incumprimento não terminou. Há hospitais que já cumprem, como o de Loures ou o de Almada. Mas na internet encontram-se relatos de estabelecimentos que continuam a desrespeitar aquele direito, como por exemplo o Hospital de Faro ou o Hospital do Barreiro.

Depois de um despacho para obrigar os estabelecimentos a cumprir uma lei com 30 anos de vida, o que será necessário agora? Um despacho para obrigar os estabelecimentos a cumprir o despacho anterior?

P.S. Entretanto, a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto facultou uma minuta de declaração a entregar no estabelecimento previsto para o parto, para as mulheres que pretendam exercer o seu direito a serem acompanhadas no parto: ver aqui.

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27.9.16

A Mona Lisa e eu



Uma das atrações suplementares do Museu do Louvre é a corrida à Mona Lisa. De acordo com os números revelados num documentário recente do canal ARTE, cerca de metade dos dez milhões de visitantes/ano só entra no Louvre para ver a Mona Lisa. O Louvre tem uma coleção espantosa de obras de arte e de peças de arqueologia. Mas é vê-los a transpor os torniquetes da entrada, de máquina fotográfica em riste, a avançar em passo apressado, passando indiferentes ao lado de magníficas obras, atropelando outros visitantes, subindo impacientemente as escadas e dirigindo-se enfim à sala onde a Mona Lisa está exposta. Da última vez que visitei o Louvre, já havia, neste percurso desde a entrada do museu, setas a indicar o caminho para a Mona Lisa.

Na sala onde a Gioconda está exposta há outras obras-primas, desprezadas por grande parte dos visitantes, concentrando a sua atenção na Mona Lisa. Concentrando a sua atenção é uma força de expressão. O melhor da corrida à Mona Lisa é o final. Quando finalmente se encontram em frente ao famoso quadro, muitas destas pessoas nem uns segundos se dedicam a observá-lo. Mal chegam ao pé da obra, a prioridade absoluta é tirar uma fotografia. Ao quadro e a elas e ao quadro. Sobretudo a elas e ao quadro. De forma que viram as costas à Gioconda para a fotografia. Fotografia tirada, apreciam no ecrã o resultado entre comentários de satisfação. E já está.

Tirei esta fotografia - na qual contei 5 pessoas a olhar para o quadro - um ano antes de chegar a moda dos autorretratos a que agora dão o nome de “selfies”. E foi ao ver a impressionante fotografia tirada esta semana numa ação de campanha de Hillary Clinton (ver aqui) que me pus a imaginar a corrida à Mona Lisa na era pós-“selfies”. E imagino, estarrecido, os visitantes todos de costas para o quadro para tirar uma “selfie”. É difícil conceber imagem mais absurda num museu. Mas se pensarmos bem nada de substancial mudou. Agora o absurdo é apenas mais óbvio; se alguma vantagem trouxe a mania das “selfies”, foi essa.

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18.6.16

A (des)promoção I


Somos pais – pai, mãe – e deixámos de ter nome. Ainda me recordo daquela primeira vez em que ouvi
“Pai, importa-se de…?”
e de ter pensado
“Então mas a enfermeira trouxe para aqui o pai dela?!”
e de ouvir de novo a enfermeira, a insistir
“Pai, importa-se de…?”
e eu a olhar à minha volta para perceber onde estava o dito pai. Como não havia mais nenhum homem ali, percebi, surpreendido, que o “pai” era eu.

Habituar-me-ia rapidamente. O tratamento por “mãe” e “pai” é geral, em qualquer serviço destinado à criança (creches, maternidades, hospitais, centros de saúde, consultórios de pediatria, etc.).

E parece que fazem especial esforço por abusar do uso do “pai” e da “mãe”. Raramente um simples
“Importa-se de…?”
Quase sempre um
“Pai, importa-se de…?”.
“Obrigado, pai”.
 “Adeus, pai”.
(Às vezes sinto-me tentado a responder
“Adeus, minha filha”.) 

É como se ao ganharmos a condição de pai / mãe tivéssemos perdido todas as outras e a nossa existência tivesse passado a valer unicamente por sermos pais.

Nunca se saberá como é que isto começou. Mais impressionante é como é que se propagou ao ponto de se generalizar.
(Sem qualquer paralelo. Por exemplo, se levarmos a nossa mãe a uma consulta, ninguém nos diz
“Filho, importa-se de…?”
“É por ali, filho, primeira porta à direita”
"Adeus, filho".)

O mundo ao contrário. Ontem, quando, na creche dos meus bebés, uma auxiliar da sala deles, que sempre me tinha tratado por “pai”, disse
“Jorge, é preciso trazer mais fraldas”
foi instintivo: olhei à minha volta para ver quem é que era o fidalgo que tinha o privilégio de ser tratado pelo seu nome. Como não havia mais nenhum homem ali, percebi, surpreendido, que o "Jorge" era eu.
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17.6.16

Unidade de Neonatologia de Évora: prevaleceu o bom senso


Relativamente à proposta, em discussão pública, de encerramento da UCIN de Évora (ver aqui), prevaleceu o bom senso no Governo, que anunciou ontem que o encerramento não se vai concretizar.

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