25.7.13

Tragédias e tragédias

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Curiosa a forma como encaramos as tragédias. O desastre de comboio ontem ocorrido na Galiza, com um número de mortos próximo da centena, é, sem dúvida, uma enorme tragédia, que vai ficar como um episódio negro na história da ferrovia espanhola e europeia.


Todos os dias vivemos, em Portugal, outra tragédia, muito mais dantesca (a que já chamaram, com propriedade, “guerra civil”): o número de pessoas mortas, feridas, estropiadas ou que ficam inválidas para toda a vida, em consequência de desastres nas estradas é descomunalmente superior. Repartido por centenas de desastres que vão acontecendo todos os dias, deixa de ser uma tragédia para passar a constituir um mero número estatístico. Anestesiados perante números estatísticos, continuamos a não enfrentar de forma séria aquilo que é, de facto, uma enorme tragédia, embora não abra noticiários, nem encha as primeiras páginas dos jornais. Incluindo os condutores portugueses que, cada vez mais orgulhosamente sós na Europa e contra todas as evidências científicas, continuam a encarar a velocidade como um mero “bode expiatório”.

(e o desastre de comboio de ontem mostrou mais uma vez com clareza o efeito da velocidade)  

Nesta altura, é conveniente lembrar que o comboio é, de longe (muito longe), o meio de transporte terrestre mais seguro que há, como provam todos os estudos e indicadores estatísticos. Para quem se desloca por estrada, é muito mais elevada a probabilidade de se morrer, de se ficar gravemente ferido ou de se ficar inválido para o resto da vida.

Independentemente do que se vier a apurar sobre o motivo de o comboio circular a uma velocidade muito superior à permitida, o desastre de ontem devia também fazer-nos recordar como é justa a contestação dos maquinistas portugueses

(tão enxovalhados que são pelas greves que fazem)

à banalização das horas extraordinárias e do trabalho em dias de descanso, decidida pela CP e pelos nossos ignorantes governantes: se há profissões onde é particularmente grave a banalização do recurso ao trabalho extraordinário e, portanto, à redução do tempo de descanso, uma delas é, sem dúvida, a dos maquinistas dos comboios. Por motivos óbvios de segurança. É bom que não desistam dessa reivindicação. Para segurança de todos nós. 
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