20.7.13

Mais um capítulo de uma novela surreal

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Desde o dia em que Paulo Portas tomou a decisão irrevogável de abandonar o Governo e Cavaco Silva conferiu posse a Maria Luís Albuquerque sem ter sido informado daquele pedido de demissão, o país tem vivido episódios de um surrealismo tal que já pouco ou nada nos deveria surpreender.

Com os dados de que dispomos agora (mas que desconhecíamos até ontem), muitos portugueses perguntar-se-ão agora o que terão andado as delegações do PS e do PSD / CDS a fazer durante as nove reuniões ocorridas na última semana. A brincar connosco?

Tínhamos ouvido, incrédulos, o repto lançado aos três partidos pelo sr. que vive no Palácio de Belém, no sentido de chegarem a um acordo: como é que alguém poderia acreditar, depois de tudo o que se passou nestes dois anos, que um tal acordo seria viável?

Durante esta semana, no entanto, ouvimos o (p)residente da República dizer que estava bastante otimista relativamente ao desfecho das negociações. A informação era espantosa, mas, afinal de contas, o sr. tinha um “observador” nas reuniões: estaria a falar com conhecimento de causa.

Do PS ouvimos, a certa altura, falar de “intransigência" por parte do PSD e do CDS. Mas nem duas horas depois, um comunicado conjunto dos três partidos, à saída de mais uma reunião, esclarecia-nos que não havia intransigência nenhuma: as reuniões estavam a «decorrer sem intransigência e com espírito de abertura». Repito: sem intransigência e com espírito de abertura. Ouvimos falar de sinais positivos. O crescente número de reuniões fez muita gente ficar de boca aberta: seria mesmo possível que aquela gente chegasse a um acordo? Mas como?!!

Houve sobressaltos. Históricos do PS já falavam na hipótese de cisão do partido, caso algum acordo fosse celebrado.

E afinal…

Hoje, depois de lermos os textos das propostas de cada um dos lados, depois de ouvirmos a comunicação de ontem do Secretário-Geral do PS e a de hoje do vice-Presidente do PSD, tudo fica claro: desde o início, era manifesto que não havia a mínima hipótese de um acordo. Os partidos não se entenderam sequer sobre o único ponto em que parecia ser menos difícil chegar a um acordo: a realização de eleições antecipadas em Junho de 2014, como referido por Cavaco Silva. Na proposta do PSD / CDS, admitia-se, quando muito, a realização de eleições depois de garantida a “efetiva entrada em vigor [do Orçamento de Estado] no dia 1 de Janeiro de 2015” (repare-se nas palavras “efetiva entrada em vigor”, pense-se na hipótese de fiscalização preventiva da constitucionalidade da lei do orçamento e na antecedência com que têm de ser marcadas eleições legislativas: claramente, o PSD e o CDS só aceitavam eleições em 2015).

De forma que estamos para perceber o que andaram aqueles senhores a fazer durante as nove reuniões.

Para cúmulo do surreal, o PSD fez ontem saber ao PS que ainda queria mais uma reunião, a realizar hoje. Para quê? Algum jogo de Sueca que ficou por concluir?

Mas atenção que isto ainda não acabou. Amanhã volta à carga o (p)residente da República, o responsável último por mais este espetáculo deprimente. O que mais virá a seguir? Já ninguém se atreve a prever. 
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