28.11.11

O futebol vale tudo

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Há uns anos, havia uma equipa no campeonato português de futebol (União da Madeira) que era ridicularizada por jogar habitualmente com nove jogadores estrangeiros (sobretudo brasileiros) e apenas dois portugueses.
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No sábado à noite, entre os 26 participantes que entraram em campo para o jogo entre o Benfica e o Sporting do campeonato português, havia 19 estrangeiros e sete portugueses. Destes sete portugueses, quatro eram árbitros. Nas duas equipas de futebol que entraram em campo – 22 jogadores –, só havia três portugueses. Eram todos do Sporting; no Benfica, não havia um único português.
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No jogo de ontem entre o Porto e o Braga, o Porto entrou em campo com nove jogadores estrangeiros e dois portugueses (no Braga, eram sete os jogadores estrangeiros).
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Este evidente exagero tornou-se normal. E nem temos razão para desconfiar da qualidade dos jogadores de futebol portugueses: nas últimas duas décadas, apareceram nas equipas portuguesas muitos jogadores de grande qualidade.
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Poucos se importam. Desde que seja para criar uma “equipa competitiva”, “ganhadora”, vale tudo.
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O “vale tudo” inclui também a batota. A batota é bastante comum nos jogos de futebol. Os jogadores queixam-se muito dos árbitros, mas são os primeiros a fazer e a incentivar o jogo sujo. A batota faz hoje parte da estratégia individual (e de equipa?) da maioria dos jogadores de futebol: se conseguirem enganar, se lograrem obter desonestamente uma vantagem no jogo, tanto melhor.  
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De uma maneira geral, este comportamento não é desincentivado, nem censurado pelos respectivos clubes de futebol. Nem tão-pouco é censurado pela maioria dos adeptos do futebol, a não ser que se trate da equipa adversária, porque nesse caso a batota torna-se a coisa mais repugnante do mundo, um autêntico escândalo discutido uma semana inteira nos cafés, nos locais de trabalho, nos jornais e nas televisões e um “sintoma de que o futebol vai muito mal” e de que “há clubes que são levados ao colo”.
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No esquema da batota participam também adeptos que assistem aos jogos. No sábado passado, ao que parece, houve adeptos que durante o jogo inteiro apontaram “canetas laser” aos olhos dos jogadores do Sporting, outro tipo de comportamento que se está a tornar frequente. Há semanas, adeptos bósnios que assistiam ao jogo Bósnia – Portugal fizeram o mesmo em relação ao jogador português Ronaldo. As críticas choveram entre os portugueses, mas dias depois, no jogo Portugal – Bósnia, adeptos portugueses fizeram o mesmo durante o jogo inteiro aos jogadores bósnios - nomeadamente ao guarda-redes da equipa -, no mesmo jogo em que se ouviu um monumental coro de assobios enquanto o hino bósnio era tocado (uma baixeza de nível que é difícil igualar). Os estádios têm altifalantes, mas nunca há ninguém - da parte dos organizadores do espectáculo - disposto a pedir aos adeptos que parem de fazer aquilo. É normal. Chamam-lhe a "paixão do futebol".  
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Para o jogo do passado sábado entre o Benfica e o Sporting, o Benfica colocou uma estrutura género "gaiola" para pôr dentro dela os apoiantes do Sporting (aprovada pela Liga e apoiada pela PSP), isto no mesmo estádio onde há meses apagaram as luzes no fim do jogo Benfica – Porto, quando os jogadores do Porto estavam a festejar a conquista de mais um título (obtido em consequência da vitória nesse jogo). A resposta – há quase sempre uma resposta – por parte de apoiantes do Sporting, no final do jogo, foi pegarem fogo à zona do estádio onde se encontravam.
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O futebol – e tudo o que o rodeia – é um “desporto” cada vez mais “apaixonante”. Não tive o “prazer” de ver o jogo
Benfica – Sporting. Soube do resultado após o fim do jogo, quando, na casa onde estava, uma criança de 11 ou 12 anos, fervorosa adepta do Sporting, apareceu a gritar “morte aos benfiquistas! Morte aos benfiquistas!”.
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2 comentários:

  1. Acho que o último parágrafo diz muito sobre o estado do futebol em Portugal!...
    Excelente texto.

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  2. Excelente post. O mundo do futebol é hoje muito deprimente. De desporto tem muito pouco.

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