27.9.11

Para quando a independência da Madeira?

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«Se Portugal vai resolver os problemas de todos os portugueses, vai ter que resolver os problemas dos portugueses do Continente e dos portugueses da Madeira, porque se há dois países – a Madeira e o Continente -, então dêem-nos a independência».
Alberto João Jardim, 23 de Setembro de 2011.
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Uma das coisas que me incomodam em Alberto João Jardim (tudo em Alberto João Jardim me incomoda) é o facto de o Presidente do Governo Regional da Madeira falar tão poucas vezes na independência da Madeira. Mas o pior é que, invariavelmente, dias depois, quando nós, continentais, estamos de esferográfica na mão prontos para sermos os primeiros a assinar a petição pela independência do arquipélago, Alberto João acaba sempre por dar o dito por não dito e dizer que afinal a questão da independência da Madeira não se coloca. Aconteceu agora mais uma vez – e é muito lamentável que assim seja.
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De qualquer modo, temos de reconhecer que é sempre estranho quando Alberto João Jardim fala na independência da Madeira. Por um lado, porque diz “dêem-nos a independência” e não “paguem-nos a independência”: por uma vez na vida, Alberto João Jardim não nos está a pedir dinheiro, o que não é normal. Por outro lado, dizer-nos “dêem-nos a independência” em jeito de ameaça faz tanto sentido como dizer a uma criança “olha que se não comeres a sopa toda, dou-te aqueles bombons de que gostas tanto”: não é, na minha opinião, uma estratégia muito inteligente. E também não acredito que suscitar a questão da independência sejam bem recebido pelos próprios madeirenses: numa Madeira independente, quem é que iria pagar as obras supérfluas e tapar os buracos financeiros?
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Compreende-se, assim, porque é que Alberto João Jardim acaba sempre por recuar e negar querer a independência da Madeira. Alberto João Jardim é, aliás, mestre na arte de contradizer. Diz-se agora que, em média, cada madeirense está endividado em mais de 30 mil euros (o dobro do endividamento de cada português), mas se as contas forem feitas em contradições de Alberto João Jardim, calcula-se que, em média, por cada madeirense haja três milhões setecentos e trinta e seis mil duzentos e vinte e sete contradições de Alberto João Jardim. E este número já deverá estar desactualizado: as contradições continuam a crescer a um ritmo superior ao do crescimento da dívida madeirense (valha-nos isso). Há poucos dias, Ricardo Araújo Pereira sintetizava bem algumas das mais recentes: «no domingo, Jardim negou que houvesse dívidas. Na segunda-feira, admitiu que havia dívidas, mas negou que as tivesse ocultado. Na terça, admitiu que tinha ocultado as dívidas em legítima defesa da Madeira. Na quarta, negou ter admitido que tivesse ocultado as dívidas. Hoje é quinta, e não se sabe ainda o que vai dizer – e nenhum de nós tem imaginação suficiente para se deitar a adivinhar».
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Alberto João Jardim talvez seja o político menos credível do planeta, mas é eleito pelos madeirenses há 35 anos (nas últimas eleições, mais de um terço dos madeirenses com direito de voto ainda votaram na figura). É certo que nós, portugueses, elegemos duas vezes Sócrates, duas vezes Guterres e cinco vezes Cavaco. Mas, com excepção de Cavaco, lá acabámos por perceber. E fomos mudando de governantes. Pelo menos, podemos dizer que não estamos tão mal como a Madeira(*), que elegeu Alberto João Jardim nove vezes e se prepara para elegê-lo pela décima vez.
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(*) Ainda há muito boa gente que se deixa impressionar pela obra vistosa de vias rápidas, viadutos e túneis e pela estatística enganadora da "segunda região mais rica do país" (indicador PIB per capita) e continua a acreditar piamente no mito do desenvolvimento da Madeira. Era sobre isso o artigo seguinte do blogue, mas, como estamos à beira das eleições regionais, ficará para mais tarde. Sobre o assunto, foi este ano publicado o livro "Jardim, a Grande Fraude - Uma Radiografia da Madeira Nova", do jornalista Ribeiro Cardoso, cujo lançamento na ilha da Madeira teve de ser cancelado por a editora Caminho não ter conseguido arranjar uma sala para o evento...

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