21.9.11

As autoestradas em que desbaratámos dinheiro I

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A A10 é um dos casos de auto-estradas nas quais se gastaram rios de dinheiro e que nunca deviam ter sido construídas.
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Esta auto-estrada, entre Bucelas (A9) e Benavente (A13), tem aproximadamente 40 quilómetros de extensão. Em cerca de metade da sua extensão, é uma auto-estrada paralela à A1 e muito próxima desta auto-estrada.
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De acordo com os critérios técnicos nacional e internacionalmente aceites, só se justifica construir uma auto-estrada (quatro faixas, 2x2) quando estiver em causa um tráfego médio diário  superior a 10 mil veículos (e, obviamente, se o país não tiver outras prioridades). De acordo com os mesmos critérios, uma auto-estrada de seis faixas (3x2, ou seja, três faixas em cada sentido) só é justificável para um tráfego médio diário
superior a 35 mil veículos.
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Segundo os dados oficiais, a auto-estrada A10 tem tido sempre um tráfego médio diário que não chega a 7 mil veículos (6799 em 2009 e 6870 em 2010; em 2011 – primeiro semestre – o valor médio diário vai em aproximadamente 6400 veículos). Nunca devia, portanto, ter sido construída. Mas foi. E – pasme-se -, em quase toda a sua extensão (32 km) foi construída com seis faixas (3x3), o que, como se disse, só devia acontecer para um tráfego médio diário superior a 35 mil veículos!
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No último troço desta auto-estrada, o tráfego médio diário ronda os 2000 veículos.
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Esta auto-estrada foi cara. Tem vários túneis e muitos viadutos: metade da auto-estrada foi construída em viaduto. Custou cerca de 600 milhões de euros.
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Os protagonistas
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O projecto desta auto-estrada remonta à época em que era primeiro-ministro Cavaco Silva, altura em que começaram a ser elaborados os respectivos estudos (a primeira avaliação de impacte ambiental foi concluída em 1994), mas a decisão de lançamento dos concursos para a construção dos vários troços desta auto-estrada foi tomada durante o Governo de Durão Barroso (sendo Ministro das Obras Públicas Carmona Rodrigues).
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O primeiro troço, de 6,9 quilómetros (94 milhões de euros), entre Bucelas e Arruda dos Vinhos, foi inaugurado em Setembro de 2003 por Durão Barroso e pelo seu ministro Carmona Rodrigues. “Não é uma obra qualquer”, declarou então Durão Barroso, acrescentando que “esta auto-estrada custou três vezes mais do que as obras deste tipo” (e isto é de nos deixar particularmente satisfeitos, pois é sempre reconfortante saber que uma obra que não devia ter sido feita foi especialmente cara) e salientando que se tratava de “uma obra importante”.
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Durão Barroso na inauguração do primeiro troço da auto-estrada A10, em Setembro de 2003.
Fotografia do "Oeste Online".
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A construção do troço seguinte, de 7,4 quilómetros, entre Benavente e a A13, teve lugar durante os governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, mas a obra foi inaugurada nas primeiras semanas de vida do primeiro governo de José Sócrates, em Abril de 2005. Talvez por isso, à discreta inauguração compareceu apenas o Secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos.
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A construção do terceiro troço, de 10,6 quilómetros (150 milhões de euros), entre Arruda e Carregado, prosseguiu no primeiro governo de José Sócrates e a obra foi inaugurada em Dezembro de 2006 pelo Primeiro-Ministro e pelo então Ministro das Obras Públicas Mário Lino. Na cerimónia, José Sócrates declarou que a obra “vai melhorar a qualidade de vida dos portugueses”.
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O último troço, de 14,9 quilómetros (243 milhões de euros), entre Carregado e Benavente, cuja construção foi também iniciada ainda durante o governo de Durão Barroso (2004), foi inaugurado em Julho de 2007 por José Sócrates. Inclui a segunda maior ponte/viaduto da Europa (mas não se preocupem, porque a maior também é nossa). Na inauguração, que incluiu um “arraial de concertos”, José Sócrates não se limitou a salientar a “importância nacional” da obra: acrescentou que esta auto-estrada “torna Portugal mais pequeno”.
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E de certa forma tinha razão: Portugal está agora mais pequenino…
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