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Em
muitas cidades de outros países da Europa, o estacionamento pago no interior da cidade, mesmo para
residentes, é um dado adquirido. Em cidades como Paris, onde se constatou há
muito tempo como o automóvel tinha usurpado a maior parte do espaço urbano, ao invés
de se facilitar o estacionamento (que é o que se faz quando se oferece
estacionamento gratuito), a evolução tem sido no sentido da redução progressiva
do espaço de estacionamento nas ruas, devolvendo-o às pessoas, bem como, por
exemplo, da proibição do aumento da oferta de estacionamento em qualquer local
situado a menos de 500 metros do transporte público (metro ou autocarro), ou da
eliminação da obrigação legal de se assegurar um número mínimo de lugares de
estacionamento em garagens ou caves (na construção de novos prédios).
Neste cantinho da Europa, ainda há alguns autarcas e candidatos a autarcas que, alheados do tempo em que vivem, pretendem oferecer estacionamento gratuito nas respetivas cidades. Na
cidade de Santarém, Moita Flores, quando era Presidente da Câmara, decidiu
disponibilizar estacionamento gratuito a todos os automobilistas residentes (e também aos
não residentes, mas trabalhadores no centro da cidade), em parqueamentos concessionados a
privados (à custa do erário público: mais de 200 mil euros por ano). Este ano,
o Presidente da Câmara de Viana do Castelo decidiu oferecer, pelo menos até ao
final do ano, 2000 lugares gratuitos em parques subterrâneos (também
concessionados a privados) no centro da cidade (também à custa do erário público).
Ainda em Viana, o candidato do PSD à Câmara Municipal quer criar, no centro da
cidade, 2400 lugares gratuitos, metade dos quais nas ruas do pequeno centro histórico (que ficariam repletas de carros), um quarto dos quais desativando parquímetros.
Em Faro, um ex-presidente da câmara que agora se candidata como
independente quer que a maior parte dos lugares de estacionamento no centro da
cidade passem a ser gratuitos. Caldas da Rainha, Oeiras e Gondomar são outros municípios onde há candidatos que prometem, com maior ou menor
amplitude, estacionamento gratuito.
Em
Lisboa, uma cidade onde a oferta de estacionamento público por habitante é
superior à de Paris, por exemplo (e isto sem contar com todo o estacionamento
ilegal em cima dos passeios lisboetas), e onde mais de 50% (= a maioria) da oferta de
estacionamento público ainda é gratuita, Fernando Seara, o candidato do PSD e
do CDS a Presidente da Câmara de Lisboa, promete oferecer estacionamento
gratuito para os lisboetas, em qualquer zona da cidade (por períodos máximos de
três horas, limite que, como se sabe, é sempre facilmente torneável). A medida significa qualquer lisboeta poder deslocar-se de carro a qualquer ponto da cidade e aí
dispor de estacionamento gratuito. Significa, portanto, um verdadeiro convite a
que as pessoas se desloquem de carro no interior da cidade, em vez de utilizarem modos mais
sustentáveis de deslocação, como o transporte público. Mais uma vez, à custa do
erário público.
Suspeita-se,
aliás, que Fernando Seara não faz a mínima ideia daquilo que está a prometer:
para oferecer a qualquer residente em Lisboa a possibilidade de estacionar gratuitamente
em qualquer outro ponto da cidade, teriam de ser criados muitos milhares de
novos lugares de estacionamento por toda a cidade, onde manifestamente não há
espaço para mais estacionamento, a não ser construindo muitos parques subterrâneos ou silos, levando a autarquia à ruína financeira...
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Fernando
Seara revela também um considerável descaramento: no seu programa
eleitoral, queixa-se dos 400 mil carros que entram diariamente em Lisboa,
muitos dos quais oriundos do concelho de Sintra, que governou nos
últimos 12 anos; mas, quando governava Sintra, agradeceu aos deuses a obra de
alargamento para 6 faixas do IC19 (via rápida Sintra-Lisboa), aplaudiu entusiasticamente a construção e a abertura
da A16 (autoestrada Sintra-Lisboa) e outras obras que constituem autênticos convites
a que as pessoas se desloquem de carro para Lisboa, sendo que, por outro lado, nada de sério fez para
desincentivar a utilização do carro no seu concelho…
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