No mês passado, foi inaugurada,
em Lisboa, uma nova avenida denominada “Eixo Central da Alta de Lisboa” (na
imagem do lado, um dos lados da avenida, durante a construção), que a Câmara
Municipal de Lisboa comparou, em termos elogiosos, à avenida da Liberdade,
nomeadamente pela sua largura e pelo seu largo (31 m) corredor central ajardinado
com bancos para as pessoas “desfrutarem o charme parisiense importado para este
projeto”.
Já ouvi uma ou outra referência
muito elogiosa a esta nova avenida, como se se tratasse de um magnífico exemplo
de desenho urbano.
A comparação com a avenida
da Liberdade é, no mínimo, caricata: a avenida da Liberdade de hoje é um
exemplo do que não se deve fazer. É uma avenida com faixas a mais para os
carros, trânsito excessivo e que tem sido frequentemente referenciada como
sendo “a avenida mais poluída da Europa”. Tem, é verdade, uma larga área verde
entre faixas de rodagem, também com bancos para as pessoas “desfrutarem o charme parisiense”,
mas o ruído do trânsito e o ar contaminado pela queima de combustível tornam-na
um sítio onde não apetece ficar – e onde é recomendável não ficar, se se tiver
amor à saúde. As várias faixas de rodagem convidam à velocidade e não é por
acaso que existem por lá placas a informar que se trata de uma “zona de
acidentes” (quem não se recorda de um grave acidente ocorrido há pouco tempo com um carro
a circular a mais de 100 km/h?).
Foi mais ou menos este modelo
que agora se quis importar para outra zona de Lisboa.
Com a conclusão da urbanização
prevista para o local, a avenida vai ficar assim:
SPACE
E por falar em repetir os erros
do passado, a avenida tem 6 faixas para o trânsito motorizado (em alguns
locais, são 7, como se vê na imagem do projeto mostrada acima), para facilitar o trânsito autómóvel. Esta avenida é, citando as
palavras do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mais uma “via
estruturante” para a cidade de Lisboa e «[essencial] para
a ligação de toda a zona da Charneca, da Ameixoeira e da Alta de Lisboa, mas
também do concelho de Loures, ao centro da cidade» - o que, traduzido
por miúdos, significa perpetuar o incentivo à utilização do carro numa cidade onde essa utilização é muito
excessiva.
Este é o prolongamento do chamado
“eixo central de Lisboa” (daí o nome da avenida), composto também pela avenida
da Liberdade, pela avenida Fontes Pereira de Melo, pela avenida da República (ao
que consta, o segundo lugar mais poluído de Lisboa, junto a Entrecampos) e pelo
Campo Grande: tudo “vias estruturantes” com muitas faixas de rodagem, onde são
os carros que dominam. Avenidas que ferem a cidade por onde passam.
No desenho urbano da nova
avenida foram esquecidas medidas de acalmia de tráfego, contra as boas práticas
urbanísticas do século XXI. As faixas de rodagem da avenida são um convite aos
aceleras que abundam por cá. Os atravessamentos pedonais são mais espaçados do que o
recomendável, dificultando a vida aos peões, obrigados a fazer desvios para atravessar a rua.
Nada que possa causar grande
admiração: o mesmo modelo ultrapassado foi usado recentemente, por exemplo, no
planeamento da zona da Expo (também frequentemente elogiado), toda construída
de raiz e onde abundam as avenidas largas “estruturantes” onde o carro passou a
dominar.
Há que ser coerente: não se
pode defender uma cidade com menos automóveis, uma cidade mais
para as pessoas, e depois insistir-se neste tipo de planeamento urbano.
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Diz o artigo que se percorrem 70 metros para atravessar a avenida. Se essa distância corresponde à largura total da avenida, então não será mais larga que a Avenida da Liberdade, que tem 90 metros (mais 20 metros que a célebre Champs-Élysées).
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