Com o passar do tempo, a
comunicação social desinteressou-se do caso Citius. Como se os seus efeitos
tivessem terminado em pouco tempo. Um ano depois, no entanto, os operadores
judiciários (juízes, advogados, magistrados do Ministério Público e
funcionários judiciais) são unânimes: os efeitos do colapso do CITIUS ainda se
fazem sentir (ver transcrições em baixo).
A principal responsável por este escândalo, a ministra da justiça, não se demitiu, nem foi demitida e
surge, nas eleições legislativas, em n.º 3 na lista de candidatos do PSD/CDS do
distrito de Lisboa, logo a seguir a Passos Coelho e a Paulo Portas. É o contrário da meritocracia. Não se premeia o mérito, premeia-se a incompetência.
«Não sei até quando sofreremos os efeitos do colapso [no
sistema informático CITIUS]. Temos constrangimentos pontuais, como alguns
apensos que não estão no sistema e alguns processos que não estão distribuídos.
O facto de termos estado dois meses sem sistema significa dois meses de papéis
a entrar que não são juntos, dois meses a cumprir processos urgentes em papel,
e termos até ao dia de hoje funcionários a introduzir peças processuais, requerimentos,
despachos e sentenças no sistema. O principal problema está nas secções de
execução, onde os processos não estão todos no sistema, e, embora não estejam
perdidos, não se conseguem trabalhar, não se conseguem, inclusivamente, em
algumas situações, distribuir».
Maria José Costeira, Presidente da Associação Sindical dos Juízes
Portugueses, Setembro de 2015
«A plataforma CITIUS ainda padece de muitas insuficiências,
destacando-se a falta de migração de um número significativo de processos,
sobretudo de processos apensos».
Elina Fraga, Bastonária da Ordem dos Advogados, Setembro de
2015
«Houve um grande prejuízo na tramitação processual, houve a
necessidade de praticar muitos atos fora do sistema, e todos os atos têm de ser
inseridos; mas isso só é possível quando houver disponibilidade de pessoas. Há
muitas irregularidades por detetar; à medida que se mexem nos processos é que
se percebe a dimensão do impacto – e não é possível mexer nos dois milhões de
processos que existem nos tribunais num ano. (…) Há muito trabalho que tem de
ser inserido no sistema e que continua à espera de disponibilidade de pessoas».
Fernando Jorge, Presidente do Sindicato dos Funcionários
Judiciais, Setembro de 2015
«[O colapso no sistema informático CITIUS ainda está a ter]
várias [consequências]. Por exemplo, não temos estatísticas da Justiça fiáveis,
porque tivemos meses sem registos; ora, as estatísticas são um elemento
importante para se poder fazer a gestão por objetivos prevista na lei».
António Ventinhas, Presidente do Sindicato dos Magistrados
do Ministério Público, Setembro de 2015
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