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O relatório produzido pelo
Grupo de Trabalho para as
“infraestruturas [de transportes] de elevado valor acrescentado” (GT IEVA)
está em discussão pública desde o início do mês e pelo menos até ao final de
Março.
A
posição oficial do Governo tem sido a de que a decisão sobre as infraestruturas
a construir só será tomada depois de terminada a discussão pública e que,
portanto, nenhuma obra está ainda decidida. Aliás, só assim é que a discussão
pública faz sentido; doutra forma, não passaria de uma farsa.
No
entanto, o Secretário do Estado dos Transportes tem vindo a deixar escapar que determinadas obras vão ser feitas. Na semana passada, Sérgio Monteiro
afirmou num canal de televisão que a autoestrada do Marão (também conhecida por
“túnel do Marão”) «tem de ser» construída. E afirmou ainda que a ligação ferroviária Sines-Caia para mercadorias não pode deixar de avançar. E ontem mesmo foi publicamente anunciado, em pleno túnel do Marão, o lançamento dos concursos públicos para a construção da autoestrada
do Marão, com um custo de 204 milhões de euros.
(segundo
o relatório do GT IEVA apresentado há três semanas, a obra custaria 173 milhões, mas, afinal de contas, o que são 31 milhões de euros a mais?)
Segundo
o que foi ontem anunciado, alguns trabalhos desta autoestrada (sem volume de tráfego que a justifique) deverão avançar já
neste semestre e a obra estará concluída até ao final do próximo ano. Sérgio
Monteiro justificou a decisão de avançar com a obra com o facto de haver fundos
comunitários disponíveis e de existir «espaço orçamental nas Estradas de
Portugal para a contrapartida nacional».
(o
que tem a sua piada, porque a Estradas de Portugal está enterrada em dívidas)
Estas
duas obras já decididas têm um custo de 1204 milhões de euros, o equivalente a 1/4 (!) do investimento total previsto no relatório do GT IEVA.
Conclusão: se estava a pensar dar o seu contributo na discussão pública do relatório do GT IEVA, talvez não valha a pena dar-se a esse trabalho, porque pelos vistos a discussão pública não serve para nada…
SPACE(Relacionado: A discussão pública do relatório sobre grandes infraestruturas serve para quê? (II))
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