14.12.12

Queda na venda de automóveis: e ainda se espantam?

SPACE
SPACE
Este quadro de uma revista norte-americana (datado de 2008) indica os dez países com maior número de automóveis por mil habitantes, e coloca Portugal à frente de todos os outros países do mundo. Haverá quem ache que é motivo de orgulho; mas deveria antes constituir razão para termos vergonha. Se repararmos bem na lista, é composta quase exclusivamente por países ricos (e todos os da lista são mais ricos do que Portugal). Japão e França, além de países ricos, são dois dos maiores produtores mundiais de automóveis e onde o acesso a este bem é mais barato, mas estão bem atrás de Portugal, respetivamente no 8.º lugar (com menos 21% de veículos) e no 10.º lugar (com menos 24%).
SPACE
Não se leve demasiado a sério este quadro: há vários critérios de cálculo do número de veículos automóveis e nenhum deles permite obter um resultado absolutamente fidedigno no que diz respeito à posse de automóveis para utilização como meio de transporte particular de passageiros (apenas é possível fazer estimativas). Sobretudo se a lista se referir a todos os veículos automóveis registados num país, incluindo, portanto, todos os veículos de mercadorias (camiões, carrinhas, etc.), embora essa estatística não deixe de ser relevante, na medida em que revela a taxa de motorização de um país. Mas mesmo quando a lista se restringe aos veículos ligeiros, coloca-se a dificuldade – insuperável – de contabilizar os veículos ligeiros comerciais que são utilizados (exclusivamente) como veículos de passageiros ou que são também utilizados como veículos de passageiros. Sabe-se que em Portugal são muito numerosos os veículos nessas circunstâncias, mas é impossível apurar o seu número exato, porque todos esses veículos estão oficialmente classificados como veículos de mercadorias.
SPACE
Qualquer que seja, porém, o critério utilizado (e a verdadeira posição relativa do país no mundo), as estatísticas revelam sempre que há, em Portugal, um número exagerado de veículos automóveis (que, ainda hoje, com o setor numa crise profunda, representam uns impressionantes 7,5% das importações portuguesas). Num país com excesso de automóveis, é, pois, natural que, independentemente da crise, as vendas de carros tenham vindo a cair nos últimos anos. O que faz ainda mais sentido se pensarmos que, na Europa, o pico do automóvel já passou e o futuro está na utilização crescente de meios mais sustentáveis de transporte (por muito que em Portugal se teime em ignorá-lo).
SPACE
Percebe-se, pois, mal todo o alarido que a comunicação social faz todos os meses (como sucedeu ontem), quando são publicados novos dados sobre a queda na venda de carros, renovando os “alertas” sobre a crise do setor, o encerramento de lojas de automóveis por todo o país e a “necessidade” de (ainda mais) subsídios para o setor. O país está pejado de carros. Anormal seria se em Portugal se continuassem a vender tantos veículos como antes. Se há setor onde é inevitável a crise (durante e após a crise geral que atravessamos) é o setor do automóvel. Sendo natural que esse processo se tenha acelerado com a crise económica e a perda de poder de compra. É, afinal, um lado bom da crise…
SPACE
P.S. Vale a pena recordar que em 2010, já em plena crise económica grave, a venda de automóveis ligeiros subiu 38,8% em Portugal.

1 comentário:

  1. Tem toda a razão neste artigo. O português comum trabalha 6 meses por ano para pagar as despesas totais do seu carro. Elas são o seguro, o combustível, as revisões, reparações, possível crédito automóvel, desvalorização do veículo, lavagens, eventuais multas, IUC, portagens e parqueamento. Esse custo total ultrapassa muitas vezes os 500€ por mês, mas as pessoas não fazem essa contabilidade porque as contas que se pagam aparecem distribuídas pelo ano em diferentes parcelas. Faça você mesmo as suas contas em AUTOCUSTOS.COM e poderá ficar surpreso com o resultado final! Pense depois quanto ganha por mês e quantos meses tem de trabalhar para suster o seu carro!

    ResponderEliminar