Na segunda volta das eleições presidenciais francesas, votaram mais de 80% dos eleitores inscritos nos
cadernos eleitorais: a abstenção foi de 19,66%.
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19,66% de abstenção é uma
brutalidade. Significa que nove milhões de pessoas não puseram os pés nas urnas
(num total de 46 milhões de eleitores inscritos). E, no entanto, nos
tempos que correm, deve ser considerado um número bastante razoável.
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Recorde-se que em Portugal a
taxa de abstenção foi de 53,48% nas últimas eleições presidenciais (2011) e de 41,93%
nas últimas eleições legislativas (2011). Nas onze eleições legislativas,
presidenciais e autárquicas realizadas no nosso país desde 1999, o registo
menos mau foi o de 35% (trinta e cinco por cento) de abstenção verificado nas eleições
legislativas de 2005.
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A elevada taxa de participação dos
eleitores nas eleições presidenciais realizadas ontem não constituiu uma
novidade em França. Na primeira volta realizada há duas semanas, o número de
votantes rondou também os 80%. Nas eleições presidenciais de há cinco anos,
quer na primeira volta, quer na segunda volta, a participação dos eleitores
excedeu os 80%. E há dez anos Chirac foi eleito num ato eleitoral em que a
participação foi de 80%.
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É certo que a taxa de abstenção
nas eleições legislativas francesas é, por regra, bastante superior à das
presidenciais. Não esqueçamos, no entanto, que o regime francês é
presidencialista e que, portanto, as eleições legislativas são muito menos importantes do que as presidenciais. Em Portugal, nem nas presidenciais, nem nas
legislativas a participação dos eleitores ultrapassa um nível medíocre, e a
desatualização dos cadernos eleitorais não explicará (se explicar) senão uma
pequena parte da enormíssima diferença entre a participação cívica dos
portugueses e dos franceses (aliás, estima-se que o número de eleitores
fantasma se situe entre os 5% e os 8% em Portugal e nos 5% em França).
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Os números de ontem teriam sido
melhores se se excluísse os resultados das ilhas e dos territórios ultramarinos
franceses (Guadalupe, Martinica, Guiana, Reunião, Nova Caledónia, Polinésia e
outros), onde as taxas de abstenção foram elevadas (chegaram a atingir
quase 60%). Considerando apenas a França continental, verificamos que, das 21
regiões francesas, apenas em três a participação eleitoral não atingiu os 80%, mas
ainda assim ficou muito perto desse valor (79,7% em Champagne-Ardenne, 79,6% na
Lorena e 78,6% em Nord-Pas-de-Calais).
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Em 87 dos 94 departamentos do
continente francês (incluindo Paris), a afluência às urnas foi superior a 80%. Dos
sete departamentos onde o número de votantes não atingiu os 80%, quatro registaram
uma taxa de participação muito próxima dos 80%; nos três departamentos com valores de
afluência às urnas mais baixos, o número de votantes situou-se entre os 78,1% e
os 76,4% (este – o pior valor – foi registado no departamento de Saint-Denis,
um pequeno departamento de meio milhão de eleitores situado nos subúrbios de
Paris, com um número muito elevado de imigrantes).
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Em contrapartida, em nove
departamentos a taxa de abstenção situou-se na casa dos 13%-14%, ou seja, o
número de votantes aproximou-se dos 90%, sendo de notar que, em França, estima-se
em 10% a percentagem da chamada abstenção involuntária, isto é, daqueles que não podem
votar por doença ou outro motivo de força maior (5%) e dos eleitores fantasma
(5%). Quatro daqueles nove departamentos com menor taxa de abstenção situam-se
na região de Midi-Pyrénées. Diga-se, por fim, que a afluência às urnas superou
os 80% nos Pirenéus e nos Alpes (regiões ainda com muito frio e neve nesta altura do
ano) e noutras regiões onde ontem foi dia de mau tempo (o clima é por vezes invocado como desculpa para a abstenção em Portugal...).
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Por mera curiosidade: numa
reportagem de um telejornal emitido há dias na televisão portuguesa, em que foram
entrevistados vários portugueses [luso-franceses] residentes na zona de Paris e
com direito de voto, a maioria dos entrevistados afirmavam que não iriam pôr os pés
nas urnas. Não lhes interessava. Pois…
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Fonte: resultados oficiais divulgados pelo Conselho Constitucional de França.
Fonte: resultados oficiais divulgados pelo Conselho Constitucional de França.
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