7.5.12

A abstenção nas eleições francesas: e não nos envergonhamos?

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Na segunda volta das eleições presidenciais francesas, votaram mais de 80% dos eleitores inscritos nos cadernos eleitorais: a abstenção foi de 19,66%.
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19,66% de abstenção é uma brutalidade. Significa que nove milhões de pessoas não puseram os pés nas urnas (num total de 46 milhões de eleitores inscritos). E, no entanto, nos tempos que correm, deve ser considerado um número bastante razoável.
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Recorde-se que em Portugal a taxa de abstenção foi de 53,48% nas últimas eleições presidenciais (2011) e de 41,93% nas últimas eleições legislativas (2011). Nas onze eleições legislativas, presidenciais e autárquicas realizadas no nosso país desde 1999, o registo menos mau foi o de 35% (trinta e cinco por cento) de abstenção verificado nas eleições legislativas de 2005.
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A elevada taxa de participação dos eleitores nas eleições presidenciais realizadas ontem não constituiu uma novidade em França. Na primeira volta realizada há duas semanas, o número de votantes rondou também os 80%. Nas eleições presidenciais de há cinco anos, quer na primeira volta, quer na segunda volta, a participação dos eleitores excedeu os 80%. E há dez anos Chirac foi eleito num ato eleitoral em que a participação foi de 80%.
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É certo que a taxa de abstenção nas eleições legislativas francesas é, por regra, bastante superior à das presidenciais. Não esqueçamos, no entanto, que o regime francês é presidencialista e que, portanto, as eleições legislativas são muito menos importantes do que as presidenciais. Em Portugal, nem nas presidenciais, nem nas legislativas a participação dos eleitores ultrapassa um nível medíocre, e a desatualização dos cadernos eleitorais não explicará (se explicar) senão uma pequena parte da enormíssima diferença entre a participação cívica dos portugueses e dos franceses (aliás, estima-se que o número de eleitores fantasma se situe entre os 5% e os 8% em Portugal e nos 5% em França).
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Os números de ontem teriam sido melhores se se excluísse os resultados das ilhas e dos territórios ultramarinos franceses (Guadalupe, Martinica, Guiana, Reunião, Nova Caledónia, Polinésia e outros), onde as taxas de abstenção foram elevadas (chegaram a atingir quase 60%). Considerando apenas a França continental, verificamos que, das 21 regiões francesas, apenas em três a participação eleitoral não atingiu os 80%, mas ainda assim ficou muito perto desse valor (79,7% em Champagne-Ardenne, 79,6% na Lorena e 78,6% em Nord-Pas-de-Calais).
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Em 87 dos 94 departamentos do continente francês (incluindo Paris), a afluência às urnas foi superior a 80%. Dos sete departamentos onde o número de votantes não atingiu os 80%, quatro registaram uma taxa de participação muito próxima dos 80%; nos três departamentos com valores de afluência às urnas mais baixos, o número de votantes situou-se entre os 78,1% e os 76,4% (este – o pior valor – foi registado no departamento de Saint-Denis, um pequeno departamento de meio milhão de eleitores situado nos subúrbios de Paris, com um número muito elevado de imigrantes).
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Em contrapartida, em nove departamentos a taxa de abstenção situou-se na casa dos 13%-14%, ou seja, o número de votantes aproximou-se dos 90%, sendo de notar que, em França, estima-se em 10% a percentagem da chamada abstenção involuntária, isto é, daqueles que não podem votar por doença ou outro motivo de força maior (5%) e dos eleitores fantasma (5%). Quatro daqueles nove departamentos com menor taxa de abstenção situam-se na região de Midi-Pyrénées. Diga-se, por fim, que a afluência às urnas superou os 80% nos Pirenéus e nos Alpes (regiões ainda com muito frio e neve nesta altura do ano) e noutras regiões onde ontem foi dia de mau tempo (o clima é por vezes invocado como desculpa para a abstenção em Portugal...).
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Por mera curiosidade: numa reportagem de um telejornal emitido há dias na televisão portuguesa, em que foram entrevistados vários portugueses [luso-franceses] residentes na zona de Paris e com direito de voto, a maioria dos entrevistados afirmavam que não iriam pôr os pés nas urnas. Não lhes interessava. Pois…
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Fonte: resultados oficiais divulgados pelo Conselho Constitucional de França.

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