19.1.12

Decididamente, o menos mau dos sistemas

SPACE
Os resultados de um estudo realizado em Portugal sobre a percepção da democracia, hoje divulgados, embora sejam preocupantes, não são muito surpreendentes. Eles indicam que apenas 56% dos portugueses afirmam que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo, mas este número está muito próximo da percentagem de eleitores que exerceram o direito de voto nas últimas eleições legislativas (58%). O estudo não fornece dados a esse respeito, mas não seria surpreendente se se concluísse pela correspondência, em grande parte, entre os abstencionistas (42%) e aqueles que, de acordo com este estudo, afirmam que em determinadas circunstâncias um regime ditatorial é preferível a um regime democrático (15%), que é indiferente uma ou outra forma de governo (10%) ou que não sabem qual dos regimes é preferível (16%) (15% + 10% + 16% = 41%).
SPACE
Aqueles que, desta forma, põem em causa a bondade do regime democrático são, ao contrário do que pensam, uma das causas da crise do sistema democrático, ao colocarem-se à sua margem. Uma análise rápida dos dados do estudo divulgado permite concluir, mais uma vez, que o que está em causa, para estes senhores, não é o regime democrático em si, mas, sobretudo, a mediocridade dos governantes que através dele têm ocupado o poder (e que, curiosamente, foram quase todos reeleitos) e as políticas que eles têm posto em prática (“os políticos só se preocupam com os seus próprios interesses” e outras avaliações gerais do mesmo estilo são, de acordo com o estudo, feitas por uma percentagem muito elevada de indivíduos), sendo incapazes de perceber que, por maioria de razão, um regime ditatorial seria, desse ponto de vista, ainda pior (em democracia, ainda vamos tendo o poder de afastar os maus governantes do poder, pelo menos de quatro em quatro anos). Para muita gente, a não recusa de um regime autoritário continua a constituir uma manifestação do velho Sebastianismo, como se numa ditadura o país fosse necessariamente governado por um salvador, por um príncipe perfeito, honesto, íntegro, competente e genuinamente preocupado em governar no interesse geral, e não por um qualquer crápula como Oliveira Salazar.
SPACE
A maledicência é um desporto nacional. Mas falta aos portugueses mais cultura democrática e mais participação cívica. Estamos sempre à espera que sejam os outros a fazer tudo por nós. Exercemos pouco a cidadania. E uma das formas de contribuir para mudar os partidos é tentar mudá-los por dentro (o que não significa necessariamente ser-se candidato a algum cargo político ou governativo). Enquanto no Norte da Europa uma percentagem significativa de jovens participam na vida política (não nos esqueçamos do que estava a acontecer naquela ilha norueguesa em meados do ano passado quando aconteceu aquele massacre) e se preocupam com questões de cidadania, em Portugal (e não só) quase ninguém quer saber, preferindo barafustar - nas mesas dos cafés ou nos bancos dos jardins - que “os políticos são todos iguais” ou que “são todos uns corruptos”.
SPACE
É relativamente consensual que há necessidade de introduzir melhorias no nosso sistema político (como uma nova lei eleitoral) – melhorias sérias, e não medidas populistas como a redução do número de deputados -, mas a famosa frase de Churchill continua a ser plenamente válida: «a democracia é o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros».   
SPACE

Sem comentários:

Enviar um comentário