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«Imagino
que esta caixa de correio esteja, a cada dia, mais cheia. Será, porventura,
interessante fazer um estudo sobre o significado do aumento de cartas e
comentários em tempos de crise. Mais interessante se se relacionarem esses
dados com a diminuição do número de votos a cada eleição que passa. Mas não é por
isso que lhe escrevo.
O que
me leva a dirigir-lhe esta mensagem é um pensamento porventura pouco original, mas
que me apoquenta cada vez mais. Sempre olhei para a história e para os seus
episódios mais negros com interesse e procurando pensar se, colocado naquela
época e lugar, me posicionaria do lado "certo". De uma forma
simplista, pensei muitas vezes como teria sido possível- perante evidências
trazidas pelos livros e pelo tempo - tantas pessoas defenderem o indefensável ou,
pelo menos, não fazerem nada para o combater.
Não
preciso de recuar à época medieval ou aos tempos da escravatura. Penso muitas
vezes na Alemanha dos anos 30, na guerra civil espanhola, no Portugal de 48 anos
(feito por todos nós, mesmo os que nascemos depois do seu fim).
E penso
como olharão para nós e para os dias de hoje (para as atuais opções políticas e
"orçamentais" do nosso país e do nosso continente) as pessoas que, no
futuro, nos virem através dos livros e do tempo. Será tudo mais evidente, sem
dúvida. Mais fácil de julgar e perceber.
Mas
penso - temendo - que alguém pergunte duas coisas simples: como foi possível
persistir num rumo político que choca contra todas as evidências? E como foi
possível que tantos deixassem, durante tanto tempo, que tão poucos os
sujeitassem a isto?
É um
pensamento perigoso que nos leva a agir. Mas é um pensamento a que não consigo
fugir».
(carta
de um leitor do Público - João Amaral - à diretora do jornal, Outubro de 2013)
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