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Duarte Belo, autor, entre
outros trabalhos, do livro “Portugal - Luz e sombra - O país depois de Orlando
Ribeiro” e do projeto “Portugal Património”, acabou de lançar o livro “A
Linha do Tua”, no qual reúne um grande número de fotografias tiradas em várias
deslocações a esta linha ferroviária, entre 1996 e 2010, incluindo uma viagem a
pé pelos sessenta quilómetros de linha entre a foz do Tua e Mirandela.
Sobre a mais impressionante das
linhas ferroviárias portuguesas e o magnífico vale que ela percorre já se publicaram outros livros de fotografia e tem-se feito documentários e até cinema documental multipremiado.
Falar da beleza de uma paisagem envolve sempre subjetividade, mas sobre a extraordinária beleza deste património que o país está prestes a perder existe
uma invulgar consensualidade, entre os que tiveram a sorte de o conhecer.
Como se sabe, a construção de
uma controversa barragem precisamente na zona mais impressionante do
vale (o canhão do Tua, a parte mais selvagem do rio) irá destruir para sempre essa paisagem e o troço mais espetacular da linha ferroviária do Tua, a única via de comunicação que percorre o vale, e que nele se integra de uma forma
perfeita.
Os portugueses têm muito pouco
respeito pelo seu património. Isso não é apenas evidente no que diz respeito ao
património edificado. A paisagem é pouco valorizada, e mesmo as paisagens
que hoje estão classificadas como Monumento Nacional pelas autoridades
portuguesas só o foram pelo facto de terem sido previamente inseridas pela UNESCO
na lista de Património da Humanidade (exemplo: a Paisagem do Alto Douro
Vinhateiro foi classificada pelo IGESPAR como Monumento Nacional em 2010, apenas porque em 2001 tinha sido classificada como Património da Humanidade pela UNESCO: art.º 15.º, n.º 7 da Lei n.º 107/2001). Quanto ao património
ferroviário, noutros países do mundo há linhas férreas classificadas,
relativamente às quais a Linha do Tua nada fica a dever.
Não que neste caso tivesse
forçosamente de haver uma classificação. Centrar a questão na eventual conservação futura do Vale do Tua (e, já agora, da Linha do Tua) é, aliás,
incorrer num erro em que caiu, por exemplo, Henrique Pereira dos Santos num
artigo recente escrito para o Público (aqui). A questão da eventual
preservação, para o futuro, da paisagem do Tua tal como ela existe hoje - e, designadamente, saber se ela é merecedora de uma proteção idêntica àquela que tem o Douro Vinhateiro - pode e
deve ser discutida de uma forma séria; mas dela não depende a proteção deste património contra a destruição pela
barragem projetada, como se no imediato apenas existissem duas opções, proteger o património ou destruí-lo, construindo-se a barragem. Basta a consideração de que entre a
barragem e o património ímpar que ela vai destruir, deve prevalecer este e não
aquela.
José Sócrates e Passos Coelho são
os chefes de governo que vão ficar para a história como os coveiros deste
património nacional.
Restam-nos as fotografias de
Duarte Belo (e não só), para que não nos esqueçamos daquilo que estamos a destruir
de forma irremediável e para que no futuro não venhamos a cometer os mesmos
erros.
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P.S.
Cuidado com as conclusões precipitadas baseadas no argumento dos empreendimentos que “trazem
desenvolvimento económico” e que “criam emprego”: não é o caso desta barragem. Pelo contrário, de um país que depende economicamente do turismo esperar-se-ia uma outra atitude perante o seu património.
(A ler, sobre a polémica barragem do Tua:
Manifesto pelo Tua, subscrito por inúmeras personalidades; e
O programa Nacional de Barragens: desastre ecomómico, social e ambiental)
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O programa Nacional de Barragens: desastre ecomómico, social e ambiental)
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