13.1.14

O falhanço da “estratégia” de segurança rodoviária

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O documento governamental que foi publicado hoje no Diário da República, relativo à Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015, constitui o reconhecimento oficial do falhanço do combate à sinistralidade rodoviária.

A “estratégia” 2008-2015 tinha objetivos limitados, circunscritos ao número de mortos e deixando de fora, por exemplo, as outras vítimas graves dos desastres de viação (que são muito mais numerosas e relativamente às quais a diminuição dos números negros tem sido muito mais tímida). Todos os anos, muita gente fica inválida para toda a vida por causa de desastres de viação, e não há estratégia séria de segurança rodoviária quando se ignora essa realidade dramática que destrói vidas.

Mesmo com objetivos limitados, a “estratégia” falhou rotundamente. Pretendia-se que em 2011 o número de mortos não ultrapassasse 728, mas houve 891 mortos nas estradas. Pretendia-se reduzir o número de mortos por milhão de habitantes para 78, mas o número ficou-se pelos 89 (tinha sido de 91 no ano de 2006, fixado como ano “base” de comparação). Pretendia-se que em 2011 Portugal já estivesse melhor do que a média europeia, mas, pelo contrário, afastou-se – e muito – dessa média, que era de 60 mortos por milhão de habitantes em 2011 (tinha sido de 86 em 2006). A Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015 pretendia colocar Portugal entre os primeiros 10 países da União Europeia, mas, pelo contrário, Portugal caiu do 13.º para o 20.º lugar entre os 27 da União e aquele objetivo tornou-se uma miragem.  

O documento constata que, considerado o número de mortos dentro das localidades, Portugal é
o 26.º entre os 27 da União Europeia (ou seja, só temos um país atrás), e lembra mais uma vez que temos um problema grave de sinistralidade rodoviária dentro das povoações. Os números oficiais, de resto, não enganam: quase 80% dos desastres com vítimas acontecem dentro das povoações e, em termos relativos, o peso da sinistralidade dentro das localidades tem vindo a aumentar. O plano de Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015 fixou como objetivo para 2011 reduzir para 311 o número de mortos dentro das povoações, mas morreram 487 pessoas. E morreram, dentro das localidades, o dobro dos peões, relativamente à meta ambicionada.

O documento hoje publicado, visando a revisão intercalar da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015, acerta no diagnóstico e alerta para a necessidade de combater a sinistralidade dentro das povoações.

Nada de novo, no entanto. Também o documento de Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015, aprovado já lá vão alguns anos, estabelecia como prioridade a diminuição da sinistralidade dentro das localidades, e apontava medidas para atingir esse objetivo. Mas aquilo a que temos assistido, nestes últimos anos, é, pelo contrário, a repetição sistemática de erros passados na realização de novas obras e a manutenção de um ambiente rodoviário em meio urbano altamente propício à sinistralidade.  O comportamento irresponsável dos automobilistas mantém-se. E a fiscalização continua a ser muito deficiente. Nenhuma surpresa pode, pois, causar o falhanço na evolução ocorrida.

Fazer diagnósticos não chega. É preciso ação. E coerência.


(Fontes: Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015, União Europeia e Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária) 
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