14.7.13

Custos da instabilidade

_
«Tem sido frequente ouvir que o custo da recente instabilidade política foi cerca de 3 mil milhões de euros. As contas são fáceis de fazer, trata-se da diferença da capitalização bolsista antes e depois. Depois acrescenta-se que os juros subiram e chegaram acima dos 8%, o que seria superior aos 7% que se entendeu considerar como limite de sustentabilidade. Pois que a instabilidade política tenha um efeito imediato nos mercados é uma evidência empírica incontestável, já que se possa medir o seu custo desta forma é um perfeito disparate.

Os políticos, em especial dos partidos da coligação que suportam o governo, falam nas descidas dos preços das acções como argumento para as críticas aos discursos dos que sustentam que está na hora de interromper o ciclo governativo com novas eleições. Muitos do principal partido da oposição usam um argumento idêntico, defendendo que a quebra da bolsa e o aumento dos juros nos mercados secundários não são mais que reacções à falta de confiança na bondade das atuais politicas. Um deputado de um dos partidos considerados mais à esquerda teve sobre este assunto o comentário que mais gostei: “os mercados só mexem por duas coisas, por alguma coisa ou por coisa nenhuma”. Os comentadores resumem este tema chamando à atenção que os mercados não gostam de incertezas. Depois, dividem-se quanto à forma de reduzir essa mesma incerteza da mesma forma que os partidos, uns dizem que é preciso deixar governar como o primeiro-ministro fosse conseguindo fazer, outros dizem que é melhor escolhermos rapidamente outros que ficariam assim com mais legitimidade.
(…)
Não tem qualquer sentido falar-se na diferença de capitalização bolsista como sendo um custo para o país decorrente da instabilidade. (…) O valor das acções e das obrigações torna-se por certo diferente num clima de incerteza provocado por uma instabilidade política, mas daí a podermos dizer que essa diferença de valor é um custo vai uma grande diferença.
(…)
Evidentemente que há alguma polémica, entre académicos, de como se deve definir e medir a instabilidade política ou social, mas isto não retira de todo a validade dos inúmeros estudos sobre os seus efeitos negativos. Há no entanto um aspecto curioso, do ponto de vista académico, na aplicação do conhecimento que nos é transmitido por estes estudos para o caso concreto de Portugal. É que os efeitos da incerteza num contexto de instabilidade política são necessariamente maiores nos países com maior grau de polarização política, o que não é de todo o nosso caso. A probabilidade de uma alteração no governo deveria ter um efeito residual se as espectativas quanto às políticas seguidas pelo próximo governo não forem muitas distintas do seu antecessor, que é o que de facto temos assistido em Portugal há muitos anos. Por outro lado, a nossa história recente mostra-nos que mesmo com um tipo de políticas semelhantes nunca tivemos uma estabilidade administrativa, jurídica e processual que se traduza numa vantagem competitiva do nosso país para receber investimento. Temos portanto um problema de instabilidade crónica que não depende da orientação política dos principais partidos políticos que nos têm governado.
(…)
Três mil milhões de euros de perdas na Bolsa é por certo relevante para muitos investidores, não conseguirmos ter um País com boas condições para atrair investimento é muitíssimo pior»!
 
Texto integral a ler aqui.
_

Sem comentários:

Enviar um comentário