Esta manhã, o Governo brindou-nos, não com um comunicado, não com uma conferência de imprensa, mas com um “briefing”. «Pedimos o favor de não interromperem este briefing», dizia a certa altura um dos membros do Governo aos jornalistas presentes, certamente para nos lembrar de que aquilo era realmente um “briefing”. Claro que era um “briefing”!, que outra coisa poderia ser? A coisa tem andado mal nos últimos governos, mas nenhum outro Governo tem contribuído tanto para assassinar a língua portuguesa como este, embora tenha a obrigação de a utilizar e de a defender.
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(Aquilo que os membros do
Governo fizeram esta manhã não foi um “briefing”, nem no verdadeiro sentido que a palavra tem na língua inglesa: o pedantismo
tem destas coisas. Mas que façam mau uso da língua inglesa, é lá com eles.)
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A coisa não se fica pelo
pedantismo do “briefing” e de muitas outras palavras e expressões inglesas abundantemente utilizadas
pelos membros do Governo. Dias atrás, foi entregue ao Provedor de Justiça uma
petição, solicitando-lhe que diligencie
junto do Governo e das instâncias competentes no sentido de ser assegurada a
disponibilização imediata, em língua portuguesa, de todos os documentos
relacionados com o programa de assistência económica e financeira. Os
memorandos de entendimento com a Comissão Europeia, o BCE e o FMI, que nem
sequer são publicados no Diário da República, são redigidos e divulgados unicamente
em língua inglesa, sendo a versão portuguesa dada a conhecer aos portugueses
muito tempo depois (por exemplo, a quinta versão do Memorando de Entendimento, assinada
em Outubro de 2012, só foi disponibilizada em língua portuguesa quase três
meses depois). Não seria muito diferente se o Orçamento de Estado fosse
publicado unicamente em língua inglesa...
SPACEComo lembrou há tempos o constitucionalista Jorge Miranda, um dos subscritores daquela petição, «a língua portuguesa é quase o único domínio de independência que hoje nos resta», sendo «a língua oficial de mais sete estados» e «falada por mais de 200 milhões de pessoas em todos os continentes». Temos de exigir destes senhores, mesmo quando têm más notícias para nos dar (especialmente quando têm más notícias para nos dar), que tenham ao menos a decência nos falar em português.
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