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Notícia de um telejornal emitido em 1978.
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A estrada referida na notícia
foi construída (há 22 anos), e a crença lusa de que é direccionando o investimento para a construção de estradas que se trava o processo de despovoamento perdura ainda entre nós, 35 anos
depois, contra todas as evidências e com os brilhantes resultados que se
conhecem.
Nesta peça jornalística de
1978, era destacado o envelhecimento da população de Penamacor. De acordo com
os dados dos censos, em 1981 havia, em Penamacor, 142 idosos (65 ou mais anos)
para cada 100 jovens (menos de 15 anos). Nos últimos 30 anos, o Índice de
Envelhecimento subiu de 142 para 598, ou seja, em 2011 já havia 598 idosos por
cada 100 jovens. Não há outro concelho em Portugal com um Índice de
Envelhecimento tão elevado (nem na remota ilha do Corvo). Apenas 18 anos antes
desta notícia da RTP, Penamacor era uma terra jovem: em 1960, havia apenas 35
idosos por cada 100 jovens. Este gráfico mostra a impressionante evolução do
Índice de Envelhecimento de Penamacor entre 1960 e 2011:
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(Os resultados dos censos de
2011 indicam que Penamacor é um dos três municípios portugueses com maior
percentagem de casas onde vivem idosos sozinhos.)
A principal causa desta
evolução foi a emigração / migração para as cidades, a partir de meados da
década de 50. O concelho de Penamacor tinha perto de 19 000 habitantes em 1950;
em 1981 (30 anos depois), já tinha perdido metade da população (a maior parte
até ao início dos anos 70); em 2011, Penamacor tinha uma população equivalente
apenas a 29,6% daquela que tinha em 1950.
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As estimativas demográficas
para 2013 vão revelar que o número de habitantes terá descido este ano ao nível
de 1801, e daqui a um ano deverá estar já a níveis do século XVIII.
A peça jornalística de 1978
indica, incorretamente, que a vila de Penamacor tinha cerca de 4000 habitantes.
Os dados demográficos indicam que Penamacor teve cerca de 4000 habitantes em
1950, mas em 1970 já só eram pouco mais de 2000, tendo a população da vila
estabilizado entre 1970 e 1981 (havia mais 23 residentes em 1981, por comparação
com 1970).
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Como se percebe comparando este
gráfico com o anterior, a queda populacional da vila foi, em proporção, menor
do que a do concelho, confirmando a
tendência das últimas décadas, de alguma migração das aldeias e das habitações
rurais para as sedes de concelho. Em 1950, 22% da população do concelho vivia
na vila; em 2011, essa percentagem era de 28%. Em todo o caso, desde os
anos 80, a vila tem perdido continuamente habitantes, que em 2011 já só eram pouco
mais de 1500 - o equivalente à população de uma grande aldeia. Hoje, Penamacor
não teria população suficiente para ser elevada à categoria de vila, se não a
tivesse já.
(A população de Valverde del
Fresno - a vila do outro lado da fronteira referida na peça jornalística -
também tem vindo a diminuir, mas a um ritmo muito menor. Nos últimos 20 anos, o
município de Valverde del Fresno perdeu 368 habitantes; Penamacor perdeu 2435.
Mesmo corrigida a diferente dimensão populacional dos dois municípios, o ritmo
da quebra demográfica em Penamacor mais do que duplica o de Valverde del
Fresno.)
À época da peça jornalística, a
maior parte da população de Penamacor estava em idade ativa; atualmente, a
maior parte dos habitantes não integra a população ativa. A maioria dos que a
integram tem mais de 40 anos. A taxa de desemprego é elevada (um pouco mais baixa do que a do país). Penamacor tem o Índice de Sustentabilidade* mais
baixo de Portugal: 1,1 (a nível nacional, o índice é de 3,4).
(*relação entre a população em idade ativa e a população idosa)
Só 10% daqueles que residem em
Penamacor têm o ensino secundário (a nível nacional são 17%), só 5,7% têm o
ensino superior (são 15,4% a nível nacional) e a taxa de analfabetismo
ultrapassa os 20% (é de 5% no país).
As crianças são poucas.
Famílias numerosas são uma raridade: em 2011, havia, em todo o concelho, 1
núcleo familiar com 7 filhos, 1 com 6 filhos, 2 com 4 filhos e 11 com 3 filhos.
Grupo mais numeroso: o dos núcleos familiares sem filhos.
Não deve ser fácil viver numa
terra pequena onde todas as semanas há funerais, mas só nasce uma criança de
dois em dois meses. Era assim na vila de Penamacor em 2011 (de acordo com os dados
dos censos), e uma proporção semelhante à da vila ocorre no concelho: por cada
criança que nasce, fazem-se 8 funerais.
Seriam precisos muitos anos
para travar o processo de despovoamento, mesmo que existisse já hoje, no país,
uma política séria com vista ao repovoamento do interior. Mas não existe. A
população de Penamacor vai inevitavelmente continuar a diminuir. Se nada se fizer, provavelmente o processo tornar-se-á irreversível.
Relacionado:
Dedicado aos dois ou três resistentes leitores deste blogue com ligação a Penamacor e que ao fim de dois anos ainda insistem em vir aqui de vez em quando.
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No próximo artigo, algo mais positivo sobre Penamacor.
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