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António
Arnaut, 77 anos, considerado o “pai” do Serviço Nacional de Saúde - uma das
maiores conquistas sociais dos portugueses dos últimos 40 anos -, precisa de
ser operado às cataratas (uma doença dos olhos que pode levar à cegueira). Foi medicamente
aconselhado a ser operado no privado, evitando as listas de espera do Serviço
Nacional de Saúde. Nos hospitais privados, podia ter sido operado há muito
tempo. Mas aguarda há mais de 6 meses nas listas de espera do Serviço
Nacional de Saúde. Como me sinto incapaz de escrever melhor do que sobre o
assunto escreveu ontem Miguel Esteves Cardoso no Público, aqui fica a transcrição do respetivo
texto:
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«Já me tinha esquecido da integridade.
Deve ter sido isso que me fez chorar. É aquilo que tem António Arnaut, um dos fundadores
do Serviço Nacional da Saúde (SNS) que, sofrendo de cataratas nos olhos, não só
recusa todos os favores dos amigos para ser operado no sector privado, como
insiste em ser operado pelo SNS, como qualquer utente anónimo.
No Público foi
justamente elogiado por denunciar a campanha cada vez mais descarada para
propagandear as empresas hospitalares com fins lucrativos à custa dos hospitais
públicos do SNS.
António Arnaut tem
dinheiro e amigos para já estar livre das cataratas há mais de seis meses. Mas
escolheu esperar e sofrer para ser igual às ideias dele. Que, no caso dele,
foram tornadas em instituições que beneficiam todos os portugueses, salvando as
nossas vidas.
Há um aspecto, no entanto, que ainda é mais corajoso e honesto: é que António Arnault, para além de rebelde, ainda acredita na qualidade do SNS que criou. Não é acreditar: sabe que o SNS tem qualidade. Tem é medo que a privatização obsessiva em curso liquide o SNS. Entenda-se: vender a algumas empresas endinheiradas, por um preço baixo, tudo o que pertence a todos os portugueses, por ter sido completamente pago pelos impostos que pagamos.
Há um aspecto, no entanto, que ainda é mais corajoso e honesto: é que António Arnault, para além de rebelde, ainda acredita na qualidade do SNS que criou. Não é acreditar: sabe que o SNS tem qualidade. Tem é medo que a privatização obsessiva em curso liquide o SNS. Entenda-se: vender a algumas empresas endinheiradas, por um preço baixo, tudo o que pertence a todos os portugueses, por ter sido completamente pago pelos impostos que pagamos.
António
Arnaut não é um mártir: é um grande político que usa todos os meios ao dispor
dele para conseguir o que deseja para os outros. Para os outros, com ele próprio
incluído. Ele quer ser - e é - como todos nós ».
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António Arnaut, que nasceu num
concelho (Penela, perto de Coimbra) onde só existia um médico (o médico da
Misericórdia, que fazia o que podia: muita gente morria por falta de
assistência médica), foi o Ministro da Saúde do Governo de Mário Soares,
responsável, em 1979, pela lei de criação do Serviço Nacional de Saúde (de que, com
honestidade ou humildade, diz não ser o responsável técnico), que viria a ser
publicada já depois da queda do Governo. Nos últimos 35 anos, sempre
defendeu o Serviço Nacional de Saúde (para ele, um «projeto humanista, e não ideológico»),
primeiro contra os que se opuseram à lei da sua criação (que foi aprovada no
Parlamento com os votos contra do PSD de Francisco Sá Carneiro), depois contra
os sucessivos ataques de que o SNS foi alvo, desde o Governo de Francisco Pinto
Balsemão (que logo 3 anos depois, em 1982, o tentou destruir, através de um
diploma que veio a ser declarado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional)
ao de Pedro Passos Coelho.
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P.S. A lista de espera para a
operação às cataratas era de 2 meses em 2012. Em 2013, António Arnaut
espera já há mais de 6 meses. Em apenas um ano, o tempo de espera mais do que
triplicou.
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