Desde o dia em que Paulo Portas tomou a decisão irrevogável de abandonar o Governo e Cavaco Silva conferiu posse a Maria Luís Albuquerque sem ter sido informado daquele pedido de demissão, o país tem vivido episódios de um surrealismo tal que já pouco ou nada nos deveria surpreender.
Com os dados de que dispomos agora
(mas que desconhecíamos até ontem), muitos portugueses perguntar-se-ão agora o
que terão andado as delegações do PS e do PSD / CDS a fazer durante as nove
reuniões ocorridas na última semana. A brincar connosco?
Tínhamos ouvido, incrédulos, o
repto lançado aos três partidos pelo sr. que vive no Palácio de Belém, no
sentido de chegarem a um acordo: como é que alguém poderia acreditar, depois de
tudo o que se passou nestes dois anos, que um tal acordo seria viável?
Durante esta semana, no
entanto, ouvimos o (p)residente da República dizer que estava bastante
otimista relativamente ao desfecho das negociações. A informação era espantosa,
mas, afinal de contas, o sr. tinha um “observador” nas reuniões: estaria a
falar com conhecimento de causa.
Do PS ouvimos, a certa altura, falar de “intransigência" por parte do PSD e do CDS. Mas nem duas horas depois,
um comunicado conjunto dos três partidos, à saída de mais uma reunião, esclarecia-nos
que não havia intransigência nenhuma: as reuniões estavam a «decorrer sem
intransigência e com espírito de abertura». Repito: sem intransigência e com
espírito de abertura. Ouvimos falar de sinais positivos. O crescente número de
reuniões fez muita gente ficar de boca aberta: seria mesmo possível que aquela
gente chegasse a um acordo? Mas como?!!
Houve sobressaltos. Históricos
do PS já falavam na hipótese de cisão do partido, caso algum acordo fosse
celebrado.
E afinal…
Hoje, depois de lermos os
textos das propostas de cada um dos lados, depois de ouvirmos a comunicação de
ontem do Secretário-Geral do PS e a de hoje do vice-Presidente do PSD, tudo
fica claro: desde o início, era manifesto que não havia a mínima hipótese de um
acordo. Os partidos não se entenderam sequer sobre o único ponto em que parecia
ser menos difícil chegar a um acordo: a realização de eleições antecipadas em
Junho de 2014, como referido por Cavaco Silva. Na proposta
do PSD / CDS, admitia-se, quando muito, a realização de eleições
depois de garantida a “efetiva entrada em vigor [do Orçamento de Estado] no
dia 1 de Janeiro de 2015” (repare-se nas palavras “efetiva entrada em vigor”,
pense-se na hipótese de fiscalização preventiva da constitucionalidade da lei
do orçamento e na antecedência com que têm de ser marcadas eleições
legislativas: claramente, o PSD e o CDS só aceitavam eleições em 2015).
De forma que estamos para
perceber o que andaram aqueles senhores a fazer durante as nove reuniões.
Para cúmulo do surreal, o PSD
fez ontem saber ao PS que ainda queria mais uma reunião, a realizar hoje. Para
quê? Algum jogo de Sueca que ficou por concluir?
Mas atenção que isto ainda não
acabou. Amanhã volta à carga o (p)residente da República, o responsável último por mais este
espetáculo deprimente. O que mais virá a seguir? Já ninguém se atreve a prever.
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